7 de ago. de 2011

Todos os dias sempre o mesmo.

Mesmas pessoas. Mesmos gestos. Mesmas noites vazias. Mesmas saídas. Mesmas frustrações. Mesmos medos. Cansada de tentar mudar. Cansada de todas as tentativas. Cansada do hoje, do amanhã. Cansada da vida e do que isso tudo trazia...

Cansada, cansada, extasiada mentalmente e profundamente doída.

Mãe, me interna, porque eu tô infeliz pra caralho - quis dizer.

3 de ago. de 2011

Sobre tentativas

"É tempo de me fazer, eu sei. E sei que é bom ser ainda indefinido. Pelo menos as deformações não calaram fundo, não se afirmaram em feições. É bom, sim, mas ao mesmo tempo é terrível. Porque me vem o medo de estar agindo errado, de estar gerando feições horríveis, que mais tarde sairão com facilidade. Não, não é fácil ser a gente mesmo da cabeça aos pés, da unha do dedo mindinho até o último fio de cabelo. "

Dos últimos dias, garantiu algumas certezas. Aqueles velhos sonhos mágicos, aquilo em que acreditava, aquilo distante.. não passavam de incertezas malditas, olhares perdidos e sentimentos vazios. Dos últimos dias, soube que muito daquilo não passava de tentativas, tristes, despertas e fugazes. Tentativas erradas, tentativas frustradas.

Dos últimos dias, aprendeu que o que realmente importa é o que fica, o que é substancial ao dia e aos gestos. Dos últimos dias, aprendeu que as verdadeiras pessoas são aquelas que são claras e simples. Nunca havia pensado nisso, mas a simplicidade, essa tão almejada, tão perdida, tão amada, muitas vezes é mascarada. As velhas questões, os velhos problemas, o mesmo ciclo vicioso: relacionamentos problemáticos e estranhos.

E ela, que havia sempre se interessado por esse tipo de gente "os estranhos e problemáticos", entendeu que, na verdade, o que precisava era um pouco de paz. Um descanso da loucura... das vozes que gritam, das palavras que machucam, dos jogos de amor. Isso já não valia a pena, afinal, era tempo de se fazer, ela sabia disso... só não sabia se estava agindo corretamente.

"Que seja calmo. Que seja doce, que seja claro. Chega dessas situações inúteis e vazias. Prefiro livros problemáticos a pessoas problemáticas..." Dizia ela, pensando que  talvez, depois de tudo, tenha aprendido que a vida é muito mais do que uma sucessão de amores platônicos, não correspondidos, dolorosos.. que a vida é mais do que uma música do Belle & Sebastian ou do Jeff Buckley.

Já não chorava, já não gritava, já não entendia. Por dentro, só vazio e som. Por dentro, só indefinição. Mas, era muito melhor do que se doer por mais uma pessoa que não se preocupava e nem respeitava seus sentimentos. Agora podia voar...

29 de mai. de 2011

You are a tourist ~

O que faz as pessoas realmente quererem ir embora? O que faz você se sentir um turista na cidade em que você mora? Elaboro mil ideias, mil planos, mil tentativas para ir embora e nunca mais voltar. Não tenho casa, não tenho lugar, nada me prende. Transito nesses lugares escuros e nada me faz querer ficar. Eu, que sempre estou indo embora dos lugares, ter que ficar, ter que me fixar. Não importa, não importa, não importa, não importa ~

26 de mai. de 2011

Vestígios de Alice - III

"Hanging so high for your return, but the stillness is a burn. Had I seen it in your eyes, there'd have been no try after try, your leaving had no goodbye, had I just seen one in your eyes...
12.03.1994

Dear Jam,

Como vai você? Tudo bem? Como está a Terra Gelada? Ontem estava a olhar as cerejeiras no jardim e pensei em você. Sim, nada tão irônico, algo que nos uniu agora nos separa: nosso jardim. Já não consigo olhar o que um dia floresceu tanto os meus dias. Já não consigo sentir seu aroma dentre as pétalas verdes, amarelas.. dentre nossas cerejeiras. Atravesso aos poucos esse nosso lugar e não consigo lembrar da última vez que estivemos juntos. Você lembra? O que emerge na sua memória? Quais são suas lembranças? O que você sente? Quem é você? Já não o conheço mais, e apesar dos esforços.. parte de você ainda vive em mim. Parte das suas muitas partes, dos seus muitos eus. Algo como seus sorrisos, seus gritos e suas cambalhotas no chão. Não sei quem você é. Não sei quem você foi. E, sinceramente, não sei se o silêncio me ajuda a saber. Só sei que você não preenche mais meus pensamentos tão vazios. Você, um passado cada vez mais passado. Enterrado, soterrado, engolido pela força da distância e do silêncio. Você se importa? Não? Você já chorou alguma vez? Você já sentiu alguma vez? Alguma vez você foi verdadeiro? Lembra dos meus vestígios? Lembra de mim? Cartas rasgadas, jogadas, discos rachados. Letras riscadas, caixas quebradas. Vestígios de Alice. Meus vestígios. Seus vestígios. Nosso amor. Destruído, colocado no lixo. Você quem fez isso? Foi você que passou a acreditar que os vestígios já não faziam parte de nós? O que aconteceu? O que você fez comigo? Vestígios de Alice. Vestígios de um amor. Lembranças de um jardim. Nossos discos, nossas rimas pobres de amor. Suas mentiras. Suas falsas promessas. Minhas tentativas. Minha ingenuidade. Meu amor. Sua vida. Seus muitos eus. Suas lágrimas. Sua distância. Suas auto-sabotagens. Sua auto-destruição. Nossos, minhas, seus. Tudo atravessado, recolhido, recortado. Tudo colado em pedaços. Nossos pedaços. Seus pedaços. Meus pedaços. Tudo aqui, jogado, na cama, no chão, na parede. Tudo lá, na cama do canto da parede. Noites, dias, tardes. Pedaços. Apenas pedaços. Você me fez acreditar que talvez fosse real, mas era apenas mais uma história para seus livros. Era apenas mais um conto, uma poesia, uma história. Um romance. Destruído. Amargurado. Eu era apenas mais uma linha no seu livro. Uma linha. Um nó. Um 'entre'. Uma palavra. Um gesto. Dois discos e muitas cartas. Agora riscados e rasgados. Meus vestígios. Seus vestígios. Nossos, até o dia em que você resolveu voltar a ser aquela velha pessoa. Até o dia em que você destruiu nosso jardim e matou nossas cerejeiras.
E apesar de tudo, confesso que estou bem, estou forte. Passei da época de achar que não fui boa o suficiente. Eu fui, muito mais do que você.

Com [ainda] amor, Alice. 

6 de mai. de 2011

Vestígios de Alice - II

"It's too late, I'm no longer full, just uncomfortable, uncomfortable..."
Seus papéis rasgados, discos quebrados, caixas estocadas, cartas não enviadas... tudo agora reconstruído. Seus pedaços, seus vestígios, seus sentimentos.. Alice agora tentava juntar tudo com durex, com fitas, com lágrimas. Reconstruir-se, recompor-se, reinventar-se.

Suas lágrimas se mesclavam a um gosto amargo de fracasso e solidão. Alice, sua paz, sua vida, seu coração. Por um longo tempo achava que seria completa, por um longo tempo. Por um tempo, através desse tempo, ela havia acredito na forma mais bonita e singela de amor.

Nada mais restava, senão lágrimas, confusões mentais, recomposições falidas, sentimentos alheios, raiva, dor e outros elementos embaraçados. Alice já não dormia, já não comia, já não sorria, já não amava. Suas manhãs, tardes e noites eram um eterno mal-estar, um sentimento vazio e uma dor sem precedentes.

O que aconteceu com a sua vida? Quanto tempo Alice se fadará a escrever? O que dói tanto, Alice? O que machuca tanto? Você, que achava que seus problemas eram visuais, estéticos. O que aconteceu agora? Acorde, Alice.

E ela ia vivendo os dias como se outros dias não existissem. Cada dia a mais era uma espécie de "um dia a mais que não passa". Os dias vazios, os dias vazios.. seus dias vazios. Cada dia mais procurando razão em alguma coisa. Cada dia mais.. sem encontrar. Vazia, sozinha, fadada e doída.